Fonte: G1
quinta-feira, 11 de outubro de 2007
Coração 'conversa' com o cérebro, diz estudo
No último século, a frieza da ciência transformou o coração, antes tido como repositório dos sentimentos, em apenas mais um músculo do corpo; para os cientistas, a central emocional humana seria tão somente o cérebro. Mas um novo estudo acaba de demonstrar que essa noção não está totalmente correta. Ao que parece, o coração também "fala" com o cérebro -- embora o que ele diz ainda não esteja totalmente claro. O estudo foi realizado por Marcus Gray, do niversity College de Londres, e seus colegas, e publicado na última edição da revista da cademia Nacional de Ciências dos Estados Unidos, a "PNAS". "Nós estudamos pacientes com uma variedade de problemas cardíacos durante uma tarefa experimental levemente estressante. As pessoas tipicamente respondem com atividade cardíaca aumentada, mas apenas alguns de nossos pacientes foram capazes de experimentar isso", relatou Gray, em entrevista ao G1. "Observamos uma forte associação entre o desempenho cardíaco e a atividade cerebral, o que sugere que algumas regiões do cérebro ouvem atentamente à performance do coração", conclui. A grande surpresa foi encontrar essa atividade cerebral aumentada em regiões do córtex cerebral -- área mais externa do cérebro que é responsável pelo fenômeno mais intrigante desse órgão: a produção da consciência. "Nós encontramos evidências de que a atividade cerebral nas regiões temporal esquerda e lateral prefrontal está fortemente associada ao desempenho do coração", diz Gray. "Nossa pesquisa sugere que regiões evolutivamente mais novas, ou avançadas, também acompanham as batidas do coração." A descoberta da associação pode ter um impacto médico no futuro -- talvez seja possível identificar coisas como arritmias cardíacas a partir de imagens do funcionamento do cérebro. "Não é inteiramente correto dizer, com base em nossa pesquisa, que arritmias podem ser detectadas somente com os 'scans' cerebrais", diz Gray. "Entretanto, com o aumento do entendimento da relação entre a função cerebral e a cardíaca, isso será potencialmente atingível no futuro." Em razão do estudo, que se baseou em pacientes com problemas cardíacos, pode-se pensar que essa comunicação entre o coração e o cérebro só diz respeito a más notícias. Mas Gray não acredita nisso e aposta que o coração pode induzir o cérebro a interpretar muitas das emoções positivas que sentimos, o que de certa forma restaura algumas das noções românticas até então enterradas pela frieza do monopólio cerebral das emoções. "A atividade cardíaca responde a muitas emoções e a sensação de sentir seu coração batendo forma um aspecto importante dessas emoções", diz.