sexta-feira, 7 de setembro de 2007

Dei Adeus ao Síndrome do Pânico

A doença me deixou paranóica, quase acabou comigo. Mas eu aceitei o tratamento e venci. Hoje sou uma mulher realizada e feliz
A DONA DA HISTÓRIA: Cláudia Bitencourt, 31 anos, enfermeira, São Paulo, SP
Eu era alegre e cheia de vida. Casei novinha e tive meu filho aos 18 anos. Semanas antes do nascimento do André, notei algo errado comigo. Por nada, sentia medo de tudo. Fiquei ultrasensível às coisas banais do dia-a-dia. O barulho da rua, por exemplo, me fazia imaginar acidentes horríveis. Quando meu bebê nasceu, minha reação foi protegê- lo. Só eu podia cuidar dele.
>> Enquanto meu filho chorava, eu gritava
Quando o André completou 5 meses veio a primeira crise de pânico. Ele chorava por causa de uma cólica e eu gritava. Nesse desespero senti o suor gelado e o tremor pelo meu corpo. Com o coração disparado, tive certeza de que iria morrer. A vizinha notou a gritaria, levou meu filho pra casa dela e me mandou descansar. Mas o meu medo de que alguém pudesse machucar meu filho era incontrolável. Era uma paranóia.
Essa crise durou 40 minutos e foi a coisa mais horrível que senti na vida. Quando aconteceu, 12 anos atrás, não se falava em Síndrome do Pânico. Os médicos me davam calmantes, não um diagnóstico. E, assim, a minha situação foi piorando. Aos poucos, parei de sair de casa sozinha ou com o André. Andar de ônibus ou dirigir, nem pensar.
Um dia, me olhei no espelho e constatei: em vez dos meus 60 kg originais, estava com 85! Foram quatro anos de sofrimento até o diagnóstico. Passei por cardiologista, ginecologista, clínico geral... e nada. Até que um neurologista desconfiou do pânico e me encaminhou para o ambulatório de ansiedade do Hospital das Clínicas de São Paulo. Lá, o psiquiatra prescreveu um antidepressivo e confirmou a doenca.
>> Enfiavam o remédio na minha boca
Começar a tomar o remédio foi uma luta. E a ajuda da família foi fundamental. O meu marido, minha mãe e minha irmã tiveram a maior paciência. Enfiavam o remédio na minha boca como se eu fosse criança. Nessa época, morava nos fundos da casa da minha mãe. Ela me ajudava, mas eu me culpava por não ser a mãe ideal.
>> Fiquei dois anos e meio em tratamento
Parei de tomar remédio várias vezes por causa dos efeitos colaterais: boca seca, fala enrolada e cansaço. O controle da doença não ocorre de uma hora para outra. É preciso tratar por, no mínimo, um ano. Sem medicação, as crises voltavam mais fortes. Procurei soluções alternativas, como Florais de Bach e todos os tipos de religião. De algum jeito, me ajudaram e me acalmaram.
>> Voltei a trabalhar, estudar e a me cuidar
Fui melhorando ao longo de dois anos e meio de tratamento. Aos poucos, as doses do antidepressivo foram reduzidas. Se no começo eu tomava seis comprimidos diários, pouco antes da alta tomava apenas metade de um. Nesse meio tempo, recuperei a vontade de me cuidar. E a vida seguiu.
Antes do André nascer eu era vendedora, mas queria atuar na área de saúde. Fiz curso técnico de auxiliar de enfermagem, comecei a trabalhar e depois fiz a faculdade de enfermagem. Hoje dou aulas para o curso técnico, inclusive na matéria de psiquiatria. Digo aos meus alunos que o paciente não precisa de compaixão, mas de um tratamento eficaz.
Faz cinco anos que não tomo remédio nem tenho crises. Aprendi a ser menos superprotetora com o André, mas tenho muito a melhorar. Não gosto de ir a bancos e evito multidões. Mas isso não me impede de ser feliz. Minha auto-estima está ótima, estou linda, loira e com 67 kg - apenas sete a mais do que antes da gravidez. O pânico não me apavora mais.
Autor: Fabiana Faria
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